30 abril, 2015
Grandes aliadas das montadoras, as áreas de design são as res-ponsáveis por transformar uma ideia ou necessidade em um caminhão de sucesso.
Diariamente, nos deparamos pelas ruas com caminhões suntuosos, enormes e com inúmeros recursos, muito diferentes dos modelos que circulavam anos atrás no País. O fato é que com o desenvolvimento da indústria automobilística, os caminhões hoje são projetados dentro de um novo conceito, que contempla diversos itens, como segurança, economia de combustível, sustentabilidade, conforto, beleza, robustez etc., visando atender às atuais exigências do setor e dos usuários.
Mas para lançar um caminhão que seja um sucesso de mercado, esses são apenas alguns dos aspectos que influenciam o desenvolvimento do produto. Afinal, a competitividade é grande, especialmente em um país como o Brasil, em que 60% das riquezas circulam sobre rodas. Além disso, projetar um caminhão é bem diferente de pensar em um automóvel: caminhões devem ser mais resistentes, robustos e precisam ter uma vida útil muito maior.
Para sair na frente nessa briga, as montadoras contam com um grande aliado: as áreas de design, que são responsáveis por transformar uma ideia ou necessidade em um produto de sucesso.
Na verdade, esses departamentos não trabalham sozinhos. Eles atuam integrados com outros setores da empresa e cada vez mais ganham destaque, já que hoje a estética e a beleza do caminhão põem, sim, na “mesa”.
A rigor, são áreas bem estruturadas nas empresas que contam com tecnologia de ponta, utilizando modernos sistemas e softwares para projetar novos caminhões, o que envolve várias etapas e um tempo razoável para conclusão e lançamento.
Na Man Latin America, por exemplo, a decisão de se trabalhar com um novo design depende do ciclo de vida do caminhão e da estratégia da companhia em relação à renovação e à atualização do portfólio de produtos. “Assim que a companhia decide produzir um novo caminhão, os primeiros passos do design são compreender a missão do produto e explorar novas ideias e conceitos, por meio de sketches e modelos em escala, que possam gerar inovações e que venham destacá-lo no mercado”, explica Gastão Rachou, vice-presidente de Engenharia, Estratégia do Produto e Gerenciamento de Portfólio da MAN Latin America.
Como o caminhão é um bem de serviço e durável, aspectos relacionados aos custos operacionais, como consumo de combustível, pneu, manutenção, reparabilidade e funcionalidade são todos levados em consideração no desenvolvimento do design. “Esses aspectos têm grande influência devido às condições de conservação das estradas, do clima de cada região, das legislações vigentes. O design de um novo caminhão leva em conta, principalmente, as aplicações, o usuário e os mercados em que será vendido”, acrescenta o executivo.
Da mesma forma, a Mercedes-Benz também segue alguns critérios no momento em que decide fabricar um novo caminhão. Antes de tudo, a empresa procura entender no detalhe a aplicação específica do modelo e qual os desejos e necessidades de quem irá operar esse produto. “Com essas e outras informações relevantes, criamos um ambiente com imagens e elementos que tenham a ver com o projeto. Esse ambiente vai nos dar suporte e inspiração ao longo da criação do design. A Mercedes-Benz acredita que o caminhão tem de ser pensado para o conforto do motorista, para ser rentável e para o uso nas estradas brasileiras.Também nas várias possibilidades de clima do País, como o Sul, por exemplo, com baixas temperaturas, e no Norte e Nordeste, com alta umidade e temperatura. A legislação, igualmente, interfere no design, como por exemplo, no posicionamento dos faróis”, explica Luis Carlos Carmo Costa, gerente de Desenvolvimento de Produto da Mercedes-Benz do Brasil.
Na verdade, para projetar um novo modelo de caminhão, cada empresa tem sua estratégia. Entretanto, existem alguns aspectos globais que são sempre levados em consideração, independentemente do mercado.
Na Man, a preocupação do design é projetar linhas que identificam a identidade da marca, mantendo itens relacionados à legislação e características técnicas de aplicação do produto. “O estilo de novos produtos é sempre regido pela filosofia de design da marca, que é parte de uma estratégia global. Essa filosofia determina características que vão compor a identidade do produto e o tornarão reconhecido como parte do portfólio da empresa”, destaca Gastão.
Segundo ele, os principais conceitos trabalhados pela área de design são qualidade do produto, design atemporal, além dos aspectos de robustez, durabilidade, funcionalidade, reparabilidade e itens de legislação.
Os produtos Mercedes-Benz, da mesma forma, apresentam características que são sempre mantidas pelo design no projeto de um novo caminhão, como a Estrela de três pontas e o distintivo com as folhas de louros, que representam que o veículo foi criado e produzido pela empresa. “Também não há uma ruptura completa com o design dos produtos anteriores. Os veículos Mercedes-Benz são uma evolução constante. O nosso mantra é ‘Forma é função’. O design é concebido sem excessos. Cada curva e superfície têm sua função”, ressalta Luis Carlos.
A opinião dos consumidores
Ouvir os consumidores também é uma estratégia adotada pelas montadoras no momento de projetar um novo veículo, cujas informações são analisadas pela área de design. “Um dos dados de entrada para que o design possa desenhar novos produtos são as pesquisas realizadas juntos aos consumidores. Porém, essa não é única. Aspectos de produção, qualidade, problemas em campo e tendências de mercado também são compilados e apresentados ao design para que soluções sejam propostas. Todo esse trabalho é realizado pelas áreas de Vendas, Marketing e Planejamento”, observa Gastão, da Man.
Além das pesquisas com clientes, o Studio de Design da Mercedes-Benz, por exemplo, ainda usa outras fontes de informações, como feiras, eventos de diversas áreas no Brasil e no exterior para buscar informação e inspiração.
Com uma equipe composta por dez pessoas, entre designers criativos, modeladores digitais, especialista em cores e texturas e modeladores físicos, a área de Design da Mercedes-Benz interage, principalmente, com o setor de engenharia, que define limitações e realiza a parte estrutural e fixações dos componentes. “São várias reuniões e discussões técnicas levadas à exaustão, para que o resultado final seja o melhor”, garante Luis Carlos.
Segundo ele, na montadora, o design começa com a criação das formas do novo produto em sketches (desenhos feitos à mão em papel ou tablet). Depois se cria o corpo em desenhos digitais 2D, que serão modelados em um software que auxilia na criação de formas tridimensionais (3D).
No final, passam por um software que melhora a qualidade da superfície, praticamente limpando as irregularidades, ondulações ou pequenos detalhes que destoem do conjunto para que a aparência final do produto seja a melhor possível.
Afinal, é com essas superfícies geradas e trabalhadas em computador, que as ferramentas para construção das peças vão ser desenvolvidas.
Protótipos
Após a definição do conceito e concretizados os primeiros passos, uma etapa importante é a construção de protótipos, ou seja, modelos físicos para análises de proporções e linhas do produto que mais identificam a marca. “Os tamanhos mais utilizados de protótipos são em escala :1, 1:5, 1:10. Os modelos de design, normalmente, são produzidos em argila sintética conhecida como Clay”, revela Gastão.
Na Mercedes-Benz, o tamanho e o tipo do protótipo dependem da fase do projeto. Geralmente, a montadora constrói os modelos em escala 1:5, até veículos em tamanho real, que também podem ser feitos em Clay, ou podem ser em espuma de poliuretano, ou ainda laminados em fibra e resina.
Quanto ao tempo de desenvolvimento do design de um novo caminhão, isso depende do escopo de cada projeto. Mas, em média, pode levar até dois anos.
Novas tecnologias
De fato, nos últimos anos, o design de caminhões vem passando por muitas transformações. E o advento de novas tecnologias contribuiu para que se pudesse atender às novas exigências de um mercado, que também está em constante mudança.
Nesse aspecto, como exemplo de evolução, Gastão, da Man, cita as cabines dos caminhões que, assim como os automóveis, passaram por mudanças em relação ao acabamento, conforto, acessibilidade e funcionalidade. “Com as novas tecnologias em materiais plásticos, espumas, revestimentos, borrachas e aços, o design tem uma maior flexibilidade para trabalhar e proporcionar linhas mais funcionais, harmoniosas, arrojadas e/ou clássicas, pensado no ciclo de vida do produto. Um bom exemplo disso é o próprio VW Constellation, que está no mercado há alguns anos e suas linhas continuam modernas, harmoniosas, com traços marcantes que se destacam entre os veículos da concorrência, possuindo uma identidade única”, compara Gastão.
A incorporação de tecnologias digitais e virtuais também foi um grande salto no trabalho do design. “O processo era essencialmente manual há alguns anos. Hoje, criamos praticamente todo o veículo virtual-
mente. Retrabalhamos a superfície de um modelo físico e escaneamos as superfícies a laser, o que diminuiu significativamente o tempo do trabalho e melhorou a qualidade do produto final”, acrescenta Luis Carlos, da Mercedes-Benz.
Ele explicou que os novos recursos incorporados às linhas de caminhões são resultado dos investimentos da empresa em pesquisa e desenvolvimento de produtos, focados em atender às demandas do mercado por veículos com reduzido custo de operação e elevado nível de conforto. “As grandes tarefas do design nos veículos comerciais são fazer com que o produto seja não só uma ferramenta de trabalho, mas um ambiente agradável e seguro ao motorista e aos acompanhantes, e que o veículo também contribua positivamente na imagem do negócio dos nossos clientes”, complementa.
Seguindo essa linha de atuação, os trabalhos mais marcantes e recentes da Mercedes-Benz que podem ser vistos nas ruas são Atego e Atron com capô, que receberam um facelift completo na aplicação do Euro 5.
Sustentabilidade
A preocupação com a fabricação de veículos ecologicamente corretos também é outra questão que vem interferindo no design nos últimos anos. Na Man, a preocupação é buscar a introdução de novos materiais, que têm menor impacto ambiental durante o processo de produção, consumo e descarte, assim como sua reutilização. “Alguns exemplos que têm sido estudados são o tecidos com fios de PET reciclado e revestimentos compostos de fibras naturais que são biodegradáveis. Além disso, o desafio está em desenhar linhas mais aerodinâmicas, pensando em otimização de consumo, por exemplo”, revela Gastão.
Já para a Mercedes-Benz, a questão da sustentabilidade é um dos pontos mais relevantes na produção de um caminhão. “A empresa está em constante processo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e sistemas, como testes em túnel de vento, onde o Design é aprimorado. O veículo tem de ser cada vez mais eficiente, e o Design tem de ser pensado para tirar o melhor proveito da aerodinâmica. Não sendo o objetivo somente a aparência, mas também acrescentando uma função aerodinâmica, que resultará na redução do consumo de combustível e consequentemente, menores emissões”, acrescenta Luis Carlos.
Portanto, por trás do nascimento de um caminhão existe um minucioso trabalho de design que, quase sempre, é determinante para sucesso de um novo produto e cada vez mais se torna imprescindível dentro das montadoras.
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