5 setembro, 2012
É comum ouvirmos afirmações de que as condições de manutenção das nossas rodovias é um dos principais motivos dos altos índices de acidentes de trânsito. Outra afirmação, que também é bastante comum, é de que a velocidade é outro fator que contribui para estes números.
Entretanto, por ser uma abordagem não técnica e pouco baseada em estatística, todas essas explicações acabam tornando-se coerentes com o senso comum e virando uma verdade quase absoluta. Notícias que dão ênfase a casos envolvendo pessoas públicas e famosas, nas quais a velocidade excessiva foi a causa do acidente, ganham espaço na mídia e reforçam a ideia de que o excesso de velocidade é o grande problema. Isso porque milhares de acidentes ocorrem sem que a causa seja identificada de forma objetiva.
De acordo com a Polícia Rodoviaria Federal, dos acidentes envolvendo veículos de carga, 47% são registrados como tombamento e 11% como capotagem. Ambos têm como causa principal a perda do controle por excesso de força lateral aplicada ao veículo. Com isso é possível concluir que 58% dos acidentes com veículos de carga têm a mesma causa, perda de controle do veículo ou falta de condição de equilíbrio por excesso de força lateral.
Aos observamos a velocidade em que estes acidentes ocorrem com base no TACÓGRAFO, ferramenta de monitoramento, ou mesmo por uma análise visual do local do acidente, constata-se que os veículos, na quase totalidade dos casos, estavam em velocidade abaixo da, normalmente, estabelecida como máxima.
Isto ocorre, normalmente, em duas situações: correção de traçado durante a curva, gerando um raio menor que o raio real da curva, e manobra brusca de mudança de direção (mudança de pista, entrada em alça, ultrapassagem e etc).
Os dois casos acima citados podem ser causados por Imperícia, Imprudência ou ambas. Tanto a imperícia como a imprudência, em qualquer atividade, podem ocorrer mais frequentemente em situações de estado de consciência alterado, sendo a causa mais comum a ingestão de bebida alcoólica. Neste cenário, as estatísticas são embasadas e conclusivas. Porém, a fadiga também altera o estado de consciência, com consequências diretas na capacidade de julgamento do condutor (Imprudência) e na habilidade em contornar uma situação crítica (Imperícia).
O gráfico abaixo demonstra, claramente, que a fadiga é um fator de alta correlação com os acidentes rodoviários envolvendo veículos de carga.
No eixo horizontal temos a distância percorrida desde o início da viagem até o momento da ocorrência do acidente. No eixo vertical, temos o percentual de acidentes em cada faixa de distância percorrida desde o início da viagem .
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Cerca de 70% dos acidentes com veículos de carga ocorrem após o condutor ter percorrido mais de 100 km e menos de 2500 km. É possível notar que existe uma concentração bastante elevada (40%) em distâncias percorridas entre 1500 e 2500 km.
Por este motivo, a fadiga associada ao uso de substâncias estimulantes é um forte indicador para que o índice de acidentes em jornadas de longa duração seja tão mais elevado do que em jornadas de, até, 700 km. Se a causa principal dos acidentes fosse a falta de conservação das estradas, não teríamos esta concentração apresentada acima.
Por sua vez, em trabalho desenvolvido pela Polícia Rodoviária Federal e o IPEA, foram atribuídos indicadores de periculosidade das rodovias federais. São fatores que levam em consideração a frequência e a gravidade do acidente por quilômetro de rodovia. A mais perigosa delas é a Fernão Dias, por ser um projeto antigo de traçado com numero elevado de curvas em declive. Apesar de ser considerada a mais moderna e bem conservada rodovia do Brasil, é a BR-450, localizada no Distrito Federal, a segunda mais perigosa do país.
A conservação das rodovias é uma necessidade para dar fluidez e aumento da velocidade média. Contudo, o aumento da velocidade média pode estimular o condutor a ultrapassar o limiar de segurança, aumentando o risco de ele envolver-se em acidentes.
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