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21 novembro, 2017

Semi: visão Tesla de caminhão elétrico

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Marca promete custo de operação menor e aponta diesel como “suicídio econômico”

A Tesla acabou com o mistério e revelou o caminhão elétrico Semi na noite de quinta-feira, 16, A novidade marca um dos primeiros grandes passos da empresa em seu plano estratégico para os próximos 10 anos, anunciado em janeiro de 2017. Com visual futurista, o modelo contraria o senso-comum de que ainda não é viável produzir caminhões zero emissões para percorrer longas distâncias, com promessa de início da produção em 2019. 


Ao apresentar o Semi, Elon Musk, o CEO da Tesla (e de algumas outras empresas que querem romper com o status quo, como a Space X) enumerou como trunfos do veículo o custo 20% menor de operação na comparação com os caminhões a diesel. Uma das ferramentas para isso é a aerodinâmica. O executivo também promete aceleração mais rápida, melhor performance em subidas e ainda autonomia de 805 quilômetros com apenas uma carga da bateria – algo que não deve muito aos 900 quilômetros que os modelos concorrentes movidos a combustível fóssil entregam. 

A propulsão é feita por motores independentes instalados nos eixos. Para garantir a viabilidade de seus modelos elétricos, a Tesla conduz paralelamente um plano para instalar infraestrutura de recarga para estes veículos pelos Estados Unidos. Segundo a empresa, o modelo pode ganhar autonomia para rodar por 400 quilômetros em uma recarga de 30 minutos durante o abastecimento, por exemplo. 

AR FUTURISTA E TECNOLOGIA SEMIAUTÔNOMA 

Com ar futurista, a cabine do modelo foi completamente repensada na comparação com os caminhões tradicionais: todo o desenvolvimento partiu do ponto de vista do motorista, que inclusive fica centralizado em relação ao painel. A empresa considerou que raramente um condutor roda com passageiro, mas ainda assim deixou espaço atrás para outras pessoas. A cabine apresentada não oferecia espaço para descanso, mas Musk garantiu que a ideia é fabricar caminhões altamente customizados e, portanto, com leito se esta for a necessidade do transportador. 

A cabine repete uma característica dos automóveis da Tesla com amplas telas sensíveis ao toque. Entre os itens de segurança citados pelo CEO estão recursos como o famoso Autopilot, tecnologia de condução semiautônoma da marca que, possivelmente, sofrerá atualização e oferecerá condições para que o caminhão rode de forma totalmente autoguiada no futuro. Por enquanto, no entanto, o sistema já garante tecnologias como ACC, que mantém distância segura do veículo à frente, e sistema de permanência na faixa de rodagem, entre outros recursos. 

Ainda que o conjunto soe promissor, estes são basicamente todos os detalhes revelados pela Tesla sobre o modelo até agora. A empresa sustentou o suspense presente em todas as suas apresentações e guardou para mais tarde informações essenciais para o público deste tipo de veículo, como capacidade de carga e preço. Desta forma a empresa aposta que a promessa de redução de custos de operação seja poderosa o bastante para atrair a atenção dos transportadores de carga. 

DIESEL É “SUICÍDIO ECONÔMICO”

Sem medo de parecer soberbo, Musk decretou na apresentação do Semi nada menos do que a proximidade do fim do uso de combustível fóssil no setor de caminhões. Segundo ele, rodar com veículos a diesel é “suicídio econômico”, garantindo que transportar carga com modelo da Tesla sairá mais barato do que fazê-lo de trem. 

Até então a companhia contava apenas com automóveis em seu portfólio e conseguiu, assim, conquistar uma legião de fãs dispostos a investir alguns milhares de dólares na pré-reserva de um novo carro mesmo antes de saber o visual do modelo ou o preço final. Agora a situação é bastante diferente, já que a Tesla chega a um público bem menos disposto a experimentar, com a exigência de resultados na planilha de custos. Um bom termômetro da receptividade deste público a mudanças será a pré-reservas do Semi, que foi aberta na quinta-feira, com a apresentação do modelo. 

Assim como a Tesla faz com seus automóveis, a cliente interessado poderá pagar US$ 5 mil para ter prioridade entre os compradores quando a produção começar. A questão é que, apesar da pompa de seu fundador, a montadora tem dado poucos sinais de que está preparada para atender a demanda em sua fábrica na Califórnia nos Estados Unidos. Das 1,5 mil unidades do Model 3 prometidas pela empresa para o terceiro trimestre, apenas 260 foram fabricadas. 

Também não passa muita confiança o fato de a companhia tentar uma ofensiva no setor de caminhões, que tem necessidades bastante específicas, antes mesmo de consolidar seu negócio em veículos de passeio. 

CONCORRÊNCIA EM CAMINHÕES ELETRIFICADOS

Além da Tesla, outra companhia dos Estados Unidos investe na eletrificação dos caminhões, a Nikola – nome que, ironicamente, complementa o da concorrente. A empresa já desenvolveu modelos híbridos e trabalha em uma solução com célula de hidrogênio em parceria com a Bosch. O caso mais concreto, no entanto, é brasileiro: o elétrico e-Delivery desenvolvido pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, que já roda em testes na frota da Ambev e deve ser lançado comercialmente em 2020
Em visita ao Brasil, Andreas Renschler, CEO da Volkswagen Truck&Bus, fez questão de alfinetar a estratégia da novata Tesla para o segmento. “Claro que poderia fazer caminhões pesados com autonomia de centenas de quilômetros, mas somos companhias diferentes. Não fazemos veículos para demonstração. Fazemos coisas que os clientes podem usar. Quer um caminhão com célula de combustível? Nós podemos fazer, mas quem pagaria milhões de euros por ele?” 

Assim, Elon Musk transita entre a fama de mente inovadora ou delirante até que consiga provar que é capaz de ter um negócio financeiramente sustentável e com produção expressiva focado apenas em soluções elétricas – a companhia ainda não atingiu seu ponto de equilíbrio. Por outro lado, a visão nova da Tesla para o setor automotivo tem potencial de mostrar que é possível pensar o transporte de outra maneira. Vale lembrar que, em tempos de inovação disruptiva, Musk pode fazer alguns executivos veteranos morderem a língua daqui a alguns anos. 

REDAÇÃO AB

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